Uma homenagem justa àquele que tanto fez pelos montadores de móveis do Brasil
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Uma modesta despedida para nosso herói |
Aqui mesmo no Portal do Montador, nosso primeiro post, teria obrigatoriamente que falar sobre Erie J. Sauder, o inventor dos móveis desmontados, um americano de Ohio, responsável pela origem da profissão de montador de móveis no mundo.
Quando falamos em Brasil, traçamos um paralelo na história e imediatamente surge um mito poderoso, desta vez um polonês, inclusive para aqueles que como eu, não foram seus funcionários nem o conheceram com maior aproximação.
Falamos de Samuel Klein, carpinteiro, que também como Erie J. Sauder, iniciou sua vida profissional ligada ao mobiliário, . Dentro de nossa visão, o patrono dos montadores de móveis do Brasil, mesmo nem tendo nascido neste solo brasileiro.
Torna-se necessário explicar aquilo que muitos montadores que não tiveram a honra de servi-lo nas Casas Bahia não sabem. Precisam ouvir sobre este homem, além de tudo aquilo que foi publicado ontem e hoje, assuntos de menor importância para a mídia, mas para nós extremamente valiosos, capazes de encher o peito de muitos montadores de móveis que com ele conviveram, porque retratam uma relação de respeito e admiração entre as partes. Uma sintonia entre origens e realizações, entre sonhos e realidade.
Existe uma grande proximidade entre sua história repleta de desafios e dificuldades, inclusive de sobrevivência, com uma classe humilde e batalhadora que surgia na época em que as Casas Bahia cresciam para ser o que hoje todos conhecem. Esta classe foi fundamental dentro do processo de estruturação de sua rede de lojas, a classe dos montadores de móveis.
O império por ele construído passou pelas mãos de diversos montadores que além de Bartira (a fábrica de móveis por ele fundada), montaram Gepime, Sakai, Bergamo, Pozza, Madecenter, Galdêncio e diversas outras marcas (me perdoem por não citar todas) que alguns montadores atuais simplesmente desconhecem. Nem todas comercializadas pela rede de lojas na época, é verdade, mas que remetem ao tempo do qual falamos, um tempo que que tudo se materializava com muito suor e esperança.
Qual montador antigo não se recorda da preocupação do patrão em fornecer nos uniformes calças com joelheiras acolchoadas, preocupado com a saúde dos montadores que transformavam os sonhos dos clientes em realidade. Os joelhos não podiam doer, isto porque ele conhecia de perto a questão do trabalhar ajoelhado, a profissão de montador de móveis não era para ele um assunto teórico. Consumidores observam atualmente a diversidade de eletro-eletrônicos no mix de vendas da rede, mas não sabem que depois dos cobertores e roupas de cama, vieram também os móveis.
Muitos recordam com saudade das reuniões com os grupos de montagem, presididas pelo próprio comandante, que não abria mão do contato direto com os montadores conforme a empresa crescia, e assim foi por todo o tempo antes de passar o bastão do comando. Citamos as primeiras cestas básicas extremamente sortidas, distribuídas em uma época em que isso nem era lei. Os salários pagos aos montadores de sua rede era referência de mercado como um teto que a concorrência nunca cobria. Decididamente talvez seja RESPEITO a palavra que melhor definia esta relação entre o patrão ídolo e seus comandados fãs.
Falamos nesta mitificação porque o Sr. Samuel Klein era para os montadores de móveis a prova viva de que era possível acreditar em dias melhores e vencer na vida, ali estava presente alguém que venceu superando dores inimagináveis e perdas que desafiam a compreensão humana do sofrimento. Ele era feliz, e tinha sempre uma palavra de conforto ou um abraço de motivação. Quando ele afastou-se do comando parecia que algo familiar estava se perdendo...
Mas temos muito mais, recordamos a criação da escola de montadores, iniciativa da qual ele se orgulhava por poder passar à frente parte de sua própria vida ainda na Alemanha, nos ofícios de carpintaria e marcenaria, era preciso compartilhar este conhecimento. São Caetano do Sul é uma cidade onde o legado do montador de móveis é enorme e ainda transpira em algumas edificações, são muitas histórias de sofrimento e conquista, verdadeiras batalhas, local de acolhida para muitos retirantes que chegaram de bolsos vazios e corações transbordando de esperança.
Não sou a pessoa mais indicada para contar essas histórias, isto porque simplesmente repito aqui o que me passaram montadores de móveis que hoje estão na faixa dos seus 60 anos de idade, mais velhos que eu, alguns ainda em atividade. Mas que diante da emoção do momento não seriam capazes de retratar o que realmente desejariam expor.
A mídia falou sobre o crédito fácil, a confiança, o ato de saber vender aos menos favorecidos, mas este comportamento, muitos não sabem, estendia-se também ao ato de entender os funcionários nas mesmas condições sociais e isto não foi amplamente falado e precisa ser aqui reforçado.
José dos Reis Filho, natural de São Bernardo do Campo e hoje com 50 anos conta que começou na Bartira em 1984, e como levava jeito para a montagem, foi logo transferido para o posto de montador na assistência técnica da filial 8 no Bairro dos Casa.
Como fato marcante, conta que certa vez em uma reunião com o Sr. Klein na filial 02 de Diadema, foi questionado junto aos demais montadores presentes, sobre o que poderia ser feito para melhorar os resultados da equipe em termos de qualidade da montagem.
Dentre as diversas solicitações posteriormente atendidas, houve uma imediata. Embora não relacionado com o tema qualidade, os montadores pediram 20% de aumento. O Sr, Klein ligou para o RH ao final da reunião, aprovando um aumento imediato de 10% já para o mês vigente. Posteriormente as demais solicitações foram sendo atendidas dentro de um plano de ação estabelecido.
Em 1986 já prestava serviços como autônomo, sempre atingindo metas de produtividade, mas as Casas Bahia queriam mais, foi contratado o Senai, que serviu a empresa em diversas unidades, na Mooca, no Brás e mesmo em São Bernardo, onde o foco dos trabalhos manteve-se sempre constante, a qualidade na montagem.
O que podemos afirmar com total convicção é que o Sr. Samuel Klein representa uma fase romântica e nostálgica da história dos montadores de móveis no Brasil e que gostaríamos que alguém fosse capaz de retratar melhor tantas histórias de montadores contadas boca a boca, que não podem se perder no tempo, dado que a mídia não cobre este ângulo de seu legado como ser humano, olhando sob o ponto de vista dos montadores de móveis.
Sr. Klein, sentiremos saudades, mesmo pessoas como eu que apertaram brevemente sua mão e escutaram apenas um simples boa tarde!