O que o cliente precisa saber na hora de comprar e montar móveis convencionais
Já não é de hoje que a maneira de comprar móveis convencionais mudou radicalmente em nossas vidas. Observando o comércio brasileiro, cerca de 20 anos atrás (a primeira em 1992) surgiam as Lojas Eletrônicas Luiza, uma espécie de precursora do que seriam as vendas de móveis pela internet, Observando que a própria internet da maneira comercial que conhecemos, deu seus primeiros passos por aqui apenas em 1.996.
O modelo era distante das lojas virtuais de hoje, mas a ideia do comprar móveis sem ter o produto físico, em especial os móveis residenciais. O formato e-commerce começou a ser explorado no Brasil na entrada do segundo milênio. Podemos dizer que o mobiliário foi o último dos itens a participar deste modelo de comercialização, dadas duas de suas particularidades (múltiplos volumes e necessidade de montagem posterior à venda).
Passado um longo período de aprendizado (cerca de 15 anos), chegamos ao tempo presente, onde as lojas de móveis online sofreram um forte processo de proliferação à partir de 2010, sustentado pelo barateamento e popularização de diversas plataformas do e-commerce e hoje competem de maneira canibalista em um mercado ainda com potencial de crescimento.
O que difere agora é que os novos entrantes (lojas novas) não encontrarão mais concorrentes despreparados, a briga já possui os "cachorros grandes". Estabelecer-se neste mercado exige planejamento e diferenciais que garantam estratégias de competição capazes de anular ou minimizar as questões preço e entrega. Talvez então estejamos falando de qualidade, design e montagem.
A compra de móveis pela internet baseia-se na questão da confiança do cliente com relação à imagem daquilo que deseja adquirir. Entretanto, o famoso DESCRITIVO TÉCNICO, obrigatório por lei nas especificações do produto, acaba sendo desprezado ou não observado pelo comprador, mestre em observar preço e prazo de entrega, mas totalmente inocente ao não comparar os descritivos técnicos de diferentes produtos.
Então vamos ao que realmente interessa...
Os móveis convencionais são compostos em sua grande maioria por chapas (paineis) de madeira reconstituída, o MDP e o MDF. O MDP é a chapa de pinus ou eucalípto no formato de partículas do tipo aglomerado e o o MDF a chapa de fibras de madeira, como linhas de um novelo. O MDF leva vantagem sobre o MDP porque admite usinagem e possui uma maior continuidade em sua composição estrutural, mas não se iludam, a ESPESSURA é muito mais importante que a constituição da chapa.
Na Europa e USA, o padrão de espessura dos móveis convencionais populares é de 18 mm. Aqui no Brasil e nos países de menor poder aquisitivo o padrão é 15 mm. Alguns bons fabricantes adotaram o padrão europeu e americano, mas são exceções e não a regra. Este é o primeiro ponto. CUIDADO COM MÓVEIS DE ESPESSURA REDUZIDA, possuem menor durabilidade e maior chance de avariais e empenamento.
Atualmente existe uma tendência ecológica em substituir os painéis de madeira reconstituída por materiais reciclados provenientes dos plásticos e resíduos de hidrocarbonetos, porém este processo é pouco representativo dentro da gama do mobiliário comercializado.
A segunda observação refere-se ao ACABAMENTO SUPERFICIAL oferecido pelos móveis convencionais. O processo mais barato é a Pintura UV. Para variar, o mais caro é o laminado de madeira natural, infelizmente em desuso por aqui. A solução mediana é o acabamento via lâminas ou películas industriais e as opções são diversas, BP, PET, PVC, FF (papel), etc...
Mais importante que o processo de acabamento superficial, é a QUALIDADE deste acabamento. Poderíamos ter uma lâmina de madeira extremamente fina e uma camada de pintura UV extremamente generosa, o que acabaria por equilibrar este jogo. Na verdade o grande problema é a competição entre os fabricantes de móveis convencionais.
No objetivo da busca pelo melhor PREÇO, acabam optando por sacrificar a qualidade do processo de pintura e neste caso o cliente paga o pato. Em menos de 9 meses após a aquisição do produto, aquele brilho maravilhoso foi embora, deixando à mostra o substrato, as marcas do cavaco de aglomerado da chapa base abaixo da pintura. Devido à isto, muitos entendem que o MDF é superior., mas isto não é a verdade.
O ponto verdadeiro é que quando o substrato é o MDF, os cavacos acabam não sendo visíveis, mas o problema está na camada da pintura e não no substrato. O cliente desiludido e com um maior poder aquisitivo, acabará optando pelo BP em sua segunda compra ou então adotando a estratégia de considerar os móveis descartáveis, substituindo os mesmos sempre que possível. Já o cliente de menor poder aquisitivo permanecerá preso a este modelo.
Dentro desta segunda observação, colocamos a questão do acabamento dos BORDOS. Similarmente os bordos podem ser acabados em papel, PVC ou lâminas de madeira. O papel é a solução mais econômica e por isso mesmo, dependendo de sua qualidade, poderá oferecer grande espaço para o surgimento de avarias. As quinas dos móveis são os principais focos de avaria. O PVC e a lâmina de madeira são capazes de absorver certos impactos mecânicos moderados, o papel não.
Nossa terceira observação fica por conta da qualidade das FERRAGENS e acessórios. Este ponto por sinal é o que faz a grande diferença no preço final do produto. A variação de qualidade e funcionalidade é enorme. Existem canecas de dobradiça em basicamente dois padrões, 26 mm e 35 mm. Modelos diferentes de calços sistemas de abertura, etc...
Além disto existem as corrediças e os elementos de fixação. O cliente não tem como absorver todo este conhecimento, grande até mesmo para nós que somos da área. As possibilidades são extremamente variadas. As melhores corrediças são as do tipo telescópica e os melhores dispositivos de fixação são em geral os utilizados pelos móveis planejados.
Observado o produto em si, temos agora a questão da EMBALAGEM. O cliente precisa observar qual é o tipo de embalagem oferecido no móvel a ser adquirido, cantoneiras de proteção, filmes plásticos, calços, mantas de proteção entre peças, etc...Tudo isto está no custo e sua inobservância indica assumir riscos em TRANSPORTAR e entregar um produto sem integridade física ao cliente.
Finalmente chegamos ao cliente na hora da MONTAGEM. Passados todos os detalhes acima descritos, temos agora a questão da qualificação do profissional da montagem. Existe uma questão de comodismo por parte de toda a cadeia moveleira. Inobservados os pontos anteriores, não podemos aguardar um desfecho milagroso por parte do montador de móveis. Por mais qualificado que o mesmo seja, certas questões tornam-se irreversíveis na casa do cliente.
Vale lembrar que somos todos parte de uma mesma corrente. Tal corrente arrebenta sempre no elo mais fraco. Agora...O elo mais fraco é na verdade RELATIVO, pois depende de quem o observa. O elo mais fraco pode ser justamente aquele que encontra-se fazendo o MAIOR ESFORÇO para que tudo aconteça da maneira correta. Apenas o conhecimento técnico é capaz de verificar qual é o verdadeiro problema e sua origem.
A palavra correta passa agora a ser RESPONSABILIDADE naquilo que fazemos, independente de qual nossa missão dentro do segmento, fabricação, venda, distribuição ou montagem. O ideal seria tudo nascer de um bom projeto, bons materiais, bons processos, boa proteção, bom transporte e boa montagem. Infelizmente a guerra pelo preço e a falta de informação do cliente nos distanciam deste cenário ideal.
Sucesso à todos os montadores de móveis que fazem sua parte de maneira honrada.
C. Perin