Corrediças para Gavetas: Dispositivos Fundamentais na Funcionalidade do Mobiliário (Parte II)
Continuando nossa abordagem do post anterior, o grupo das corrediças cujo deslocamento ocorre pelo simples deslizamento através de guias é o mesmo encontrado nos primórdios das corrediças dentro do universo do mobiliário, a mais básica técnica de deslocamento dentro todas que apresentaremos.
Apesar de tecnicamente ultrapassado, este grupo existe até os dias de hoje, inclusive em móveis de madeira maciça, cujo charme é uma guia de madeira encaixada em um corpo com canal, também de madeira, fixado na lateral do móvel, seja com cola, parafusos, cavilhas ou até mesmo a combinação de tais artifícios. A sensação de robustez e obviamente a harmonização dentro deste tipo de mobiliário é tratada como diferencial que permanece inalterado inclusive em trabalhos de restauração.
Observando o fator preço, encontramos neste grupo as corrediças de pinus (em crescente desuso) e as corrediças plásticas, as mais baratas do mercado na atualidade, presentes em móveis de apelo extremamente popular. As de pinus utilizam parafuso na fixação do corpo e possuem um canal na lateral de gaveta.
Já as de plástico podem ou não possuir este canal, visto que muitos fabricantes, para economia de processo, inadvertidamente utilizam as corrediças plásticas "sob" as laterais de gaveta, com o intuito de reduzir custos de processo na fabricação das laterais de gaveta. As corrediças plásticas podem utilizar calços estriados ou parafusos de fixação.
Embora extremamente baratas, as corrediças plásticas atualmente já não representam o principal volume do mercado, dado que apresenta forte rejeição por parte do comprador.
O grande volume de aplicação é hoje ocupado pelas corrediças com deslizamento por rodízios ou roldanas, mais especificamente as corrediças metálicas leves, nome pelo qual são comumente ou comercialmente conhecidas.
Assim, sendo, encontramos tais corrediças largamente utilizadas na montagem de móveis populares com preços de entrada, lembrando que proporcionam uma abertura parcial da gaveta, ou seja, mesmo a gaveta aberta, parte dela ainda fica para dentro do móvel, o que não é uma característica totalmente conveniente em termos de usabilidade.
O modelo caracteriza-se pela formação de dois pares, esquerdo e direito, sendo que cada par possui duas parte que formam o conjunto, o corpo fixo e a haste deslizante. Um rolamento, plástico ou metálico, permite o engate e o deslizamento na parte presa ao móvel, comumente na lateral de gaveta, podendo ter variantes tais como prateleiras projetáveis e outros.
A roldana deslizante corre sobre a dobra do corpo fixo, que forma um canal guia de deslizamento. Este modelo em geral admite certa variação na precisão do vão da gaveta na ordem de 2 mm. Caso a folga seja maior que este limite, o dispositivo apresentará o conhecido problema de descarrilamento e consequente desencaixe (queda) da gaveta.
Existe uma padronização de profundidade variando a cada 50 mm, os modelos mais utilizados possuem as seguintes profundidades, 350, 400 e 450 mm. Segue uma tabela das variações comercialmente encontradas, lembrando que seguem também um padrão de linhas de furação, muitas vezes não seguidos ou conhecidos adequadamente por alguns projetistas, pois o ideal acima de 350 mm é a utilização e 3 e não 2 parafusos de fixação.
Seguindo a hierarquia da complexidade técnica e sofisticação, o próximo grupo é conhecido como corrediças telescópicas. na verdade possuem o deslocamento linear em função de roletes ou esferas. A utilização deste modelo é uma tendência em franco crescimento, hoje em dia já comum sua utilização no mercado moveleiro de médio padrão, dada a redução de preços que apresentou nos últimos anos. O sistema de rolamentos com esferas metálicas permite o deslizamento suave e silencioso do conjunto, podendo proporcionar extração total da gaveta dependendo do modelo, funcionalidade necessária para clientes com uma maior exigência.
Todas elas possuem um conjunto direito e outro esquerdo. Além do deslocamento suave, proporcionam o travamento da gaveta ao fim do curso. Essas corrediças são indicadas para gavetas de madeira, arquivos, fichários, equipamentos, eletrônicos e automação. Fabricadas em aço laminado ou aço inox, possui acabamento zincado, preto ou branco. Sua capacidade de carga é extensa. Geralmente a mais utilizada no mercado é a corrediça de 45 Kg, para gavetas da cozinha ou que precisem suportar mais peso. Normalmente apresentam duas alturas, 35 ou 45 mm, com vão de instalação entre 12 e 25 mm. Para casos especiais existem modelos que suportam cargas de até 200 Kgs
Os elementos de movimento são em esferas de aço mas existem algum com esferas de plástico, cuidado. Estão alojados em caixas, impedindo que a poeira atrapalhe o movimento ou até mesmo acumule poeira no rolamento, como pode acontecer com corrediças leves. Elas tem o benefício de poder ser instaladas em uma ranhura na lateral da gaveta, o que pode melhorar de forma significativa o aproveitamento de espaço do armário ou móvel em questão, já que alguns modelos permitem um vão mínimo entre a lateral da gaveta e o corpo do produto.
Os montadores de móveis menos experientes acabam por danificar este tipo de corrediça durante a instalação, forçando o conjunto de maneira inadequada com força excessiva e assim rompendo o alojamento das esferas, que por suia vez se espalham no local devido ao rompimento da caixa de contenção. O sistema é robusto, mas exige cuidado e conhecimento para o manuseio.
Para este modelo é necessário reservar pelo menos 27 mm para o corpo fixo da corrediça na lateral interna do móvel, além de ser necessária uma distância mínima de 10 mm de altura entre cada gaveta. Além da profundidade, a escolha do trilho ou corrediça para aplicação na gaveta está ligada principalmente à capacidade de carga que se deseja do sistema. Existem hoje trilhos e corrediças com capacidade de cargas mais variadas possíveis. É bom saber que as corrediças telescópicas são sem sombra de dúvida as mais indicadas em aplicações normais, por causa da sua resistência e robustez.
Corrediças com trilhos longos, que permitem criar “super gavetas”, em geral perdem capacidade de carga de acordo com o aumento do comprimento, devido ao efeito alavanca. Mas isto s é uma mera referência dado que quase não se encontra no mercado este tipo de aplicação, bastante rara e extremamente específica.